April 22, 2006
O que os outros não ouvem
John Constable - Stormy sea, Brighton
Ontem
ali sentados
ouvi o que os outros não ouvem
ali sonhando
com olhos de serenata:
os vilolinos de Beethoven
E, se as minhas mãos de prata
me traíram
foi por, de repente
querer rasgar as núvens
e acordar a verdade
E, no ar
as fontes de Respighi
em tempestade
E, porque a verdade
dorme ainda
com a cabeça nas núvens
e eu, aqui, existo
continuo ouvindo
Respighi e Beethoven
contente,
porque ouço
o que os outros
não ouvem
Talvez tu...
E ontem, dizia-te
que quero morrer
mas não posso!
Porque descem do céu
dedos de angústia
e, só de senti-los
e de vê-los
parece que a vida me agarra
pelos cabelos!
E é por isso que ontem
me viste lágrimas...
viste?
Caiu do céu
o meu saco de problemas
que o vento rasgou
em tempestade
e eu que ouço
o que os outros não ouvem
tapo os olhos
bebo lágrimas
para não ver as algemas
e tudo, porque ouvir Beethoven
me parece liberdade
E disse-te
que gosto do escuro
mas é para não ver
presas
as asas geladas do sonho
os poemas
que não escrevo
por me fazerem sofrer
para não ver
a tua ternura
caindo para o céu
onde cabem todos
menos eu!
E, ali sentados,
calados,
Ficámos nus olhando o céu
donde descia um violino
que os outros não ouvem
talvez só tu e eu
que amamos Beethoven
e esse violino frio nos aqueceu
e nos tirou
aquele amargor a bafio
que trazíamos na boca
E lá fora
soprava o vento nos ramais
e cantava,
cantava na noite,
adormecendo os vendavais
E nós dois ali sentados
cheios de frio,
ouvindo a canção do vento
num desvario de sonho
e lamento
os dois olhando o céu,
com olhos de frio,
os dois sózinhos
ouvindo violinos
na lama dos caminhos
num desvario vão
tu e eu
na fronteira da solidão
até que a noiteadormeceu...
Dezembro, 1971
ali sentados
ouvi o que os outros não ouvem
ali sonhando
com olhos de serenata:
os vilolinos de Beethoven
E, se as minhas mãos de prata
me traíram
foi por, de repente
querer rasgar as núvens
e acordar a verdade
E, no ar
as fontes de Respighi
em tempestade
E, porque a verdade
dorme ainda
com a cabeça nas núvens
e eu, aqui, existo
continuo ouvindo
Respighi e Beethoven
contente,
porque ouço
o que os outros
não ouvem
Talvez tu...
E ontem, dizia-te
que quero morrer
mas não posso!
Porque descem do céu
dedos de angústia
e, só de senti-los
e de vê-los
parece que a vida me agarra
pelos cabelos!
E é por isso que ontem
me viste lágrimas...
viste?
Caiu do céu
o meu saco de problemas
que o vento rasgou
em tempestade
e eu que ouço
o que os outros não ouvem
tapo os olhos
bebo lágrimas
para não ver as algemas
e tudo, porque ouvir Beethoven
me parece liberdade
E disse-te
que gosto do escuro
mas é para não ver
presas
as asas geladas do sonho
os poemas
que não escrevo
por me fazerem sofrer
para não ver
a tua ternura
caindo para o céu
onde cabem todos
menos eu!
E, ali sentados,
calados,
Ficámos nus olhando o céu
donde descia um violino
que os outros não ouvem
talvez só tu e eu
que amamos Beethoven
e esse violino frio nos aqueceu
e nos tirou
aquele amargor a bafio
que trazíamos na boca
E lá fora
soprava o vento nos ramais
e cantava,
cantava na noite,
adormecendo os vendavais
E nós dois ali sentados
cheios de frio,
ouvindo a canção do vento
num desvario de sonho
e lamento
os dois olhando o céu,
com olhos de frio,
os dois sózinhos
ouvindo violinos
na lama dos caminhos
num desvario vão
tu e eu
na fronteira da solidão
até que a noiteadormeceu...
Dezembro, 1971
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